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Se um homem estrangula a esposa enquanto sonha que está combatendo ladrões na sua casa, isso faz com que ele seja considerado louco, maléfico ou inocente? De acordo com um caso recentemente encerrado na Inglaterra, Brian Thomas, que matou a sua esposa (foto) em uma crise de sonambulismo, foi considerado inocente. Mas o juiz o instruiu a nunca mais dormir na mesma cama com ninguém. Durante o julgamento, três psiquiatras argumentaram que colocar Thomas na cadeia não faria nenhum bem, e o juiz concluiu que o homem não tinha nenhum controle sobre as suas ações no momento do crime.

De acordo com Michel Cramer-Bornemann, especialista em desordens do sono, o caso aumentou o uso do sonambulismo como defesa em casos jurídicos. Thomas realmente tem um problema sério, mas o especialista teme que, em outros casos, defesas semelhantes sejam utilizadas com más intenções. Segundo Cramer-Bornemann, estudos sobre as causas do sonambulismo podem ajudar a identificar quem tem um problema verdadeiro e quem está apenas utilizando isso como uma desculpa no tribunal.

Em outubro deste ano, Ursula Voss, da Universidade de Bonn, na Alemanha, alegou que mesmo durante sonhos lúcidos — um estado em que algumas pessoas afirmam conseguir controlar seus sonhos — algumas áreas do cérebro associadas com a intenção ficam “fora do ar”, enquanto outras, associadas com a consciência, ficam ativas. “Desde que você esteja dentro de um sonho, não há como controlar as suas ações e emoções”, afirmam os pesquisadores envolvidos no estudo.

Embora esta pesquisa não tivesse relação direta com o sonambulismo, ele se alinha com outro estudo, realizado na Universidade de Zurique, na Suíça. A pesquisa, realizada por Cláudio Basseti, conseguiu levar uma pessoa tendo um episódio de sonambulismo para uma máquina de análise cerebral. Basseti descobriu que o sonâmbulo não tinha ativação nas áreas associadas com a intenção, embora as áreas ligadas à emoção e aos movimentos estivessem funcionando normalmente.

“A noção de julgamento fica inexistente, enquanto nossa habilidade de reagir a qualquer coisa emocionalmente fica bem presente”, explica Rosalind Cartwright, do Centro de Pesquisa de Desordens do Sono de Chicago, nos. Ela afirma acreditar que um diagnóstico de sonambulismo pode funcionar como uma defesa eficiente no tribunal, mas diz que testes mais eficientes têm que ser criados para estabelecer quem tem uma desordem do sono verdadeira.

Descobertas sobre o sonambulismo

O diagnóstico do sonambulismo pode se tornar mais fácil desde que pesquisadores da Universidade de Montreal, no Canadá, descobriram que o estado pode ser desencadeado por sons, principalmente se a pessoa está sem dormir há muito tempo. Antonio Zadra e uma equipe de pesquisadores mediram a atividade cerebral de dez pessoas que sofrem com o sonambulismo e 10 pessoas sem o problema, para determinar o estágio do sono em que a pessoa se encontrava.

O estudo descobriu que o som de uma campainha durante o sono de ondas leves colocou três pessoas dentro do estado sonâmbulo, e todos os voluntários entraram no estado sonâmbulo quando ficaram 25 horas privados do sono. Nenhum dos participantes que não tinha propensão ao sonambulismo tiveram reações à campainha.

Este estudo pode levar a um teste para o sonambulismo, afirma Rosalind Cartwright. Até recentemente, advogados baseavam a defesa por sonambulismo em históricos familiares ou na infância. Entretanto, Zadra afirma que outros fatores, como motivações para cometer um crime, também devem ser levados em consideração nestes casos: “Não podemos esquecer que os sonâmbulos também podem ser criminosos”, diz. [New Scientist]

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